Pensar no Futuro de uma Cidade é ter uma Proposta inovadora,,


  1. O Papel das Políticas Publicas no Desenvolvimento Local e na Transformação da Realidade, 
  2. 1. Introdução
  3. Com um conceito claro de políticas públicas, todos entendem a linguagem usada..
  4. Vamos indicar alguns elementos do conceito, delimitar sua abrangência em termos de esfera de
  5. poder político (nível federal, estadual, municipal) e de conteúdo temático (política econômica, social –
  6. saúde, educação, assistência social etc.).
  7. Procura-se também entender o processo que vai de sua formulação à avaliação dos resultados e
  8. como os movimentos populares podem dele participar, seja para tentar influir nas políticas já em vigor,
  9. seja para apresentar alternativas que possam atender aos interesses da maioria da população.
  10. Para interferir diretamente nesse processo, sobretudo no nível local, procura-se identificar as possibilidades e espaços existentes, as dificuldades e limites da atual prática, as contradições do projeto de
  11. municipalização e descentralização e as indicações de caminhos para se construir propostas articuladas
  12. de políticas de desenvolvimento integrado e sustentável.
  13. 2. Para Compreender “Políticas Públicas”
  14.  2.1- Elementos
  15. “Políticas públicas”  são diretrizes, princípios norteadores de ação do poder público; regras e
  16. procedimentos para as relações entre poder público e sociedade, mediações entre atores da sociedade
  17. e do Estado. São, nesse caso, políticas explicitadas, sistematizadas ou formuladas em documentos (leis,
  18. programas, linhas de financiamentos) que orientam ações que normalmente envolvem aplicações de
  19. recursos públicos. Nem sempre porém, há compatibilidade entre as intervenções e declarações de vontade e as ações desenvolvidas. Devem ser consideradas também as “não-ações”, as omissões, como
  20. formas de manifestação de políticas, pois representam opções e orientações dos que ocupam cargos.
  21. As políticas públicas traduzem, no seu processo de elaboração e implantação e, sobretudo, em
  22. seus resultados, formas de exercício do poder político, envolvendo a distribuição e redistribuição de
  23. poder, o papel do conflito social nos processos de decisão, a repartição de custos e benefícios sociais.
  24. Como o poder é uma relação social que envolve vários atores com projetos e interesses diferenciados
  25. e até contraditórios, há necessidade de mediações sociais e institucionais, para que se possa obter um
  26. mínimo de consenso e, assim, as políticas públicas possam ser legitimadas e obter eficácia.
  27. Elaborar uma política pública significa definir quem decide o quê, quando, com que conseqüências e para quem. São definições relacionadas com a natureza do regime político em que se vive, com
  28. o grau de organização da sociedade civil e com a cultura política vigente. Nesse sentido, cabe distinguir
  29. “Políticas Públicas” de “Políticas Governamentais”. Nem sempre “políticas governamentais” são públicas, embora sejam estatais. Para serem “públicas”, é preciso considerar a quem se destinam os resultados ou benefícios, e se o seu processo de elaboração é submetido ao debate público.
  30. A presença cada vez mais ativa da sociedade civil nas questões de interesse geral, torna a
  31. publicização fundamental. As políticas públicas tratam de recursos públicos diretamente ou através de
  32. renúncia fiscal (isenções), ou de regular relações que envolvem interesses públicos. Elas se realizam
  33. num campo extremamente contraditório onde se entrecruzam interesses e visões de mundo conflitantes
  34. e onde os limites entre público e privado são de difícil demarcação. Daí a necessidade do debate público, da transparência, da sua elaboração em espaços públicos e não nos gabinetes governamentais.
  35. 2.2 - Objetivos
  36. As políticas públicas visam responder a demandas, principalmente dos setores marginalizados
  37. da sociedade, considerados como vulneráveis. Essas demandas são interpretadas por aqueles que ocupam o poder, mas influenciadas por uma agenda que se cria na sociedade civil através da pressão e
  38. mobilização social.
  39. Visam ampliar e efetivar direitos de cidadania, também gestados nas lutas sociais e que passam
  40. a ser reconhecidos institucionalmente.
  41. Outras políticas objetivam promover o desenvolvimento, criando alternativas de geração de
  42. emprego e renda como forma compensatória dos ajustes criados por outras políticas de cunho mais
  43. estratégico (econômicas).
  44. Ainda outras são necessárias para regular conflitos entre os diversos atores sociais que, mesmo
  45. hegemônicos,  têm contradições de interesses que não se resolvem por si mesmas ou pelo mercado e
  46. necessitam de mediação.
  47. Os objetivos das políticas têm uma referência valorativa e exprimem as opções e visões de
  48. mundo daqueles que controlam o poder, mesmo que, para sua legitimação, necessitem contemplar
  49. certos interesses de segmentos sociais dominados, dependendo assim da sua capacidade de organiza-
  50. ção e negociação.
  51. 2.3 – Modalidade de Políticas Públicas
  52. É importante considerar alguns tipos de políticas, para que se possa definir o tipo de atuação
  53. que se pode ter frente a sua formulação e implementação. Vários critérios podem ser utilizados.
  54. Quanto à natureza ou grau da intervenção:
  55. a) estrutural – buscam interferir em relações estruturais como renda, emprego, propriedade etc.
  56. b) conjuntural ou emergencial – objetivam amainar uma situação temporária, imediata.
  57. Quanto à abrangência dos possíveis benefícios:
  58. a) universais – para todos os cidadãos
  59. b) segmentais – para um segmento da população, caracterizado por um fator determinado (idade,
  60. condição física, gênero etc.)
  61. c) fragmentadas – destinadas a grupos sociais dentro de cada segmento.
  62. Quanto aos impactos que podem causar aos beneficiários, ou ao seu papel nas relações sociais:
  63. a) distributivas – visam distribuir benefícios individuais; costumam ser instrumentalizadas pelo
  64. clientelismo;
  65. b) redistributivas – visam redistribuir recursos entre os grupos sociais: buscando creta eqüidade, retiram recursos de um grupo para beneficiar outros, o que provoca conflitos;
  66. c) regulatória – visam definir regras e procedimentos que regulem comportamento dos atores para
  67. atender interesses gerais da sociedade; não visariam benefícios imediatos para qualquer grupo.
  68. Com a predominância do neoliberalismo, o caráter das políticas se modifica. Uma política pública
  69. requer a intervenção do Estado em várias áreas de atuação dos indivíduos e, para o neoliberalismo, o
  70. equilíbrio social é resultante do livre funcionamento do mercado, com um mínimo de ação do Estado.
  71. Deve existir o mínimo de regulamentação possível, as políticas distributivas devem compensarPolíticas Públicas ,
  72. desequilíbrios mais graves e, portanto, passam a ter o caráter cada vez mais seletivo e não universalizante;
  73. as políticas redistributivas não são toleradas, por que atentam contra a liberdade do mercado e podem
  74. incentivar o parasitismo social.
  75. É necessário, em relação a cada tipo de política, verificar quais são as estratégicas em determinadas
  76. conjunturas. Normalmente, as políticas estratégicas estão sob controle  total dos tecnocratas, sem
  77. espaços de participação da sociedade, como ocorre com a política econômica, tributária etc. Dessas
  78. políticas, que definem fontes de recursos, decorrem várias outras, o que exige  sua democratização.
  79. 2.4 – Formas Diferentes de Encarar as Políticas Públicas
  80. A concepção das políticas públicas varia conforme a orientação política.
  81. A visão liberal opõe-se à universalidade dos benefícios de uma política social. Para ela, as
  82. desigualdades sociais são resultado de decisões individuais, cabendo à política social um papel residual
  83. no ajuste de seus efeitos.
  84. Na visão social-democrata, concebem-se os benefícios sociais como proteção aos mais fracos,
  85. como compensação aos desajustes da supremacia do capital, o que, ao mesmo tempo, garante sua
  86. reprodução e legitimação; as políticas públicas têm o papel regulador das relações econômico-sociais,
  87. são constituídos fundos públicos para serem utilizados em investimentos em áreas estratégicas para o
  88. desenvolvimento e em programas sociais. Essa concepção foi traduzida no sistema do chamado Estado
  89. de Bem Estar Social, cujo aparato cresceu muito, levando a uma relativa distribuição de renda e ao
  90. reconhecimento de uma série de direitos sociais, mas também a um controle político burocrático da
  91. vida dos cidadãos, considerados como objetos, como meros consumidores de bens públicos. A partir
  92. dos anos 70, esse modelo entra em crise devido às mudanças no processo de acumulação, com novas
  93. tecnologias, novos padrões de relações de trabalho, provocando o esgotamento das possibilidades de
  94. atendimento às necessidades crescentes da população, o burocratismo, a ineficiência do aparelho governamental.
  95. Com a falência do Estado protetor e o agravamento da crise social, o neoliberalismo,  responsabilizando a política de intervencionismo pela estagnação econômica e pelo parasitismo social, propõe
  96. um ajuste estrutural, visando principalmente o equilíbrio financeiro, com uma drástica redução dos
  97. gastos sociais, uma política social seletiva e emergencial. A globalização torna o processo de formula-
  98. ção de políticas públicas  mais complexo, por estarem em jogo, agora, em cada país, interesses internacionais representados por forças sociais com um forte poder de interferência nas decisões quando essas
  99. não são diretamente ditadas por organismos multilaterais.
  100. 3. Dimensões Atuais das Políticas Públicas
  101. Alguns aspectos precisam ser considerados no processo de formulação de políticas públicas, no
  102. momento em que a sociedade civil é chamada a dele participar. Como exemplo,
  103. Identidade – iniciativas de proposições para responder questões constituem um elemento importante
  104. no processo de formação de identidade coletiva dos atores sociais.
  105. Plataformas Políticas -   as políticas públicas expressam o sentido do desenvolvimento histórico-social
  106. dos atores sociais na disputa para construir a hegemonia; refletem, pois, as concepções que têm do
  107. papel do Estado e da sociedade civil, constituindo programas de ações que respondem as suas carências e demandas.
  108. Mediações Institucionais – as políticas públicas traduzem mediações entre interesses e valores dos
  109. diversos atores que se defrontam em espaços públicos para negociar soluções para o conjunto da
  110. sociedade ou determinados grupos sociais.
  111. Dimensão Estratégica -  as políticas públicas diretamente ligadas ao modelo econômico e à constitui-
  112. ção de fundos públicos assumem aspecto estratégico, quando se constituem referência e base para a
  113. definição de outras políticas ou programas em determinadas áreas. As opções estratégicas devem considerar, ao mesmo tempo, as inovações tecnológicas e a reestruturação produtiva e os seus efeitos
  114. sobre o emprego e o agravamento das desigualdades sociais, buscando-se alternativas que redirecionem
  115. o emprego não apenas da forma compensatória que torna seus beneficiários meros objetos da assistência, mas que os tornem cidadãos ativos, contribuindo, através de novas formas de inserção social, para
  116. o desenvolvimento da sociedade.
  117. 4. Políticas Públicas como Processo
  118. As políticas públicas são um processo dinâmico, com negociações, pressões, mobilizações, alianças
  119. ou coalizões de interesses. Compreende a formação de uma agenda que pode refletir ou não os interesses dos setores majoritários da população, a depender do grau de mobilização da sociedade civil para
  120. se fazer ouvir e do grau de institucionalização de mecanismos que viabilizem sua participação. É preciso entender composição de classe, mecanismos internos de decisão dos diversos aparelhos, seus conflitos e alianças internas da estrutura de poder, que não é monolítica ou impermeável às pressões sociais,
  121. já que nela se refletem os conflitos da sociedade.
  122. Na sociedade civil também há uma diversidade de interesses e de visões que precisa ser debatida,
  123. confrontada, negociada, buscando-se um consenso mínimo. Essa formulação hoje se torna complexa
  124. devido à fragmentação das organizações, apesar de algumas iniciativas de articulação em alguns setores.
  125. Alguns elementos de conteúdo e de processo na estruturação das políticas públicas já estão claros, tais
  126. como: sustentabilidade, democratização, eficácia, transparência, participação, qualidade de vida. Esses
  127. elementos precisam ser traduzidos contudo em parâmetros objetivos, para que possam nortear a elaboração, implementação e avaliação das políticas propostas.
  128. Para uma participação efetiva e eficaz da sociedade civil, alguns momentos podem ser
  129. identificados e precisam ser devidamente acompanhados:
  130. a) Elaboração e formulação de um diagnóstico participativo e estratégico com os principais atores
  131. envolvidos, no qual se possa identificar os obstáculos ao desenvolvimento, fatores restritivos,
  132. oportunidades e potencialidades; negociação entre os diferentes atores;
  133. b) Identificação de experiências bem sucedidas nos vários campos, sua sistematização e análise de
  134. custos e resultados, tendo em vista possibilidades de ampliação de escalas e criação de novas
  135. alternativas;
  136. c) Debate público e mobilização da sociedade civil em torno das alternativas mais entre os atores;
  137. d) Decisão e definição em torno de alternativas; competências das diversas esferas públicas envolvidas, dos recursos e estratégias de implementação, cronogramas, parâmetros de avaliação;
  138. e) Detalhamento de modelos e projetos, diretrizes e estratégias; identificação das fontes de recursos.
  139. SOS -orçamento; mobilização dos meios disponíveis e a providenciar; mapeamento de possíveis
  140. parcerias, para a implementação;
  141. f) Na execução, publicização, mobilização e definição de papéis dos atores, suas responsabilidades e atribuições, acionamento dos instrumentos e meios de articulação;
  142. g) Na avaliação, acompanhamento do processo e resultados conforme indicadores; redefinição
  143. das ações e projetos.
  144. 5. A Participação da Sociedade Civil
  145. Para a maioria dos analistas, só há mudanças no conteúdo e na metodologia das políticas públicas
  146. com mudanças nas elites políticas, na composição do poder político. É certo que mudanças mais substantivas só podem ocorrer quando efetivamente se muda a composição do poder, mas pode-se obter
  147. conquistas sociais através da mobilização social, da ação coletiva, sobretudo quando esta passa a ter
  148. um conteúdo de proposição, de debate público de alternativas e não de mera crítica. Para isso, é
  149. necessário que as proposições sejam legitimadas por um amplo consenso e que tenham uma abrangência
  150. maior que os interesses corporativos ou setoriais.
  151. Essa é a realidade do atual processo social em que a sociedade civil, articulada em suas organiza-
  152. ções representativas em espaços públicos, passa a exercer um papel político amplo de construir alternativas nos vários campos de atuação do Estado e de oferecê-las ao debate público, coparticipando,
  153. inclusive, na sua implementação e gestão.
  154. Há, hoje, no país, uma série de experiências desenvolvidas por ONGs e organizações de base que
  155. podem servir de referência para a elaboração de propostas e alternativas de políticas públicas.
  156. Vários canais institucionais podem ser utilizados para esse debate, desde os Conselhos de Gestão,
  157. até espaços autônomos já em funcionamento ou a serem criados em áreas específicas. Deve-se também
  158. usar alguns mecanismos, de natureza administrativa, judicial ou parlamentar, criados a partir da Constituição de 88, para  exercer, junto ao Estado, um papel mais ativo e propositivo, inclusive de controle
  159. e avaliação de ações negociadas.
  160. 6. Políticas Públicas Municipais
  161. 6.1 – A realidade dos municípios.
  162. Com a Constituição de 88, os municípios adquirem a autonomia política, através da elaboração
  163. de sua própria lei orgânica e demais leis e da escolha direta de seus governantes. Ampliam sua competência em áreas importantes como a política urbana e transportes coletivos.
  164. Apesar do aumento de sua capacidade financeira, a participação dos municípios na receita
  165. tributária global não supera os 18 ou 20%. No entanto, eles assumem vários encargos e responsabilidades das outras esferas, o que os obriga a negociar recursos nos diversos programas federais ou estaduais. Com uma frágil base econômica, ao lado da ineficiência administrativa, os recursos próprios na
  166. maioria dos municípios não vão além dos 5% do total da receita. Dessa forma, a autonomia de realizar
  167. políticas próprias sem vinculação aos programas federais e estaduais é mínima.
  168. Os prefeitos, na maioria dos municípios com base político-eleitoral nas elites proprietárias, não
  169. assumem os riscos de uma política tributária mais realista. A política econômica neoliberal acentua osPolíticas Públicas,
  170. impactos sobre o emprego, a renda e as condições de vida nos municípios. Os municípios, até então
  171. alheios às questões econômicas, vêem-se pressionados a realizar programas de geração de renda e
  172. emprego. Nem assim, eles decidiram-se a qualquer iniciativa na questão agrícola ou rural, apesar de a
  173. maioria deles terem sua sustentação econômica nesse setor.
  174. 6.2 Competências Municipais
  175. Competências são responsabilidades e encargos atribuídos a cada esfera governamental para realizar sua gestão. São definidas na Constituição Federal e, no caso dos municípios, detalhadas nas Leis
  176. Orgânicas. Há competências privativas de cada esfera governamental e as comuns e concorrentes. O
  177. município tem ampla autonomia para definir suas políticas e aplicar seus recursos, no caso das competências privativas ou exclusivas. Elas são definidas no art. 30 da Constituição Federal:
  178. a) legislar sobre assuntos de interesse local, expressão bastante abrangente, detalhada na Lei Orgânica.
  179. b) instituir e arrecadar impostos sobre serviços, predial urbano, transmissão intervivos de bens imó-
  180. veis, varejo de combustíveis líquidos.
  181. O município pode, ainda, regular matérias conforme peculiaridades locais, ou, em caso de omissão
  182. de outra esfera, não sendo competência exclusiva,  preencher a lacuna.
  183. Nas áreas  tradicionalmente objeto de políticas públicas, como assistência social, meio ambiente,
  184. habitação, saneamento, produção agro-pecuária, abastecimento alimentar, educação, saúde, o municí-
  185. pio tem competência comum com a União e o Estado, a ser exercida com a cooperação dessas esferas
  186. de poder,  pela transferência de recursos, ou pela cooperação técnica. Até hoje não regulamentadas, as
  187. fronteiras entre as esferas de poder permanecem indefinidas, resultando na superposição de atividades.
  188. Importante lembrar que o capítulo da Ordem Social da Constituição assegura, de forma  clara, a participação da comunidade e a gestão democrática.
  189. Mesmo sem definição clara, o município possui, portanto, bastante competências.
  190. O problema maior são os recursos. Em um processo de descentralização desordenado, muitos
  191. encargos estão sendo transferidos sem os recursos. Estes dependem das chamadas transferências negociadas, que consideram a posição política, o prestígio e a vinculação partidária dos prefeitos e parlamentares, cujas alianças se pautam, em grande parte, pelos interesses eleitoreiros e clientelistas. As
  192. receitas dos fundos de participação são distribuídas com critérios que concentram a renda tributária em
  193. poucos municípios, os de maior desenvolvimento econômico. As parcelas transferidas diminuem com
  194. a recessão que reduz os recursos e com as políticas de ajuste fiscal que repassam parte dos recursos
  195. para fundos como o de Estabilização Fiscal.
  196. A administração dos municípios fica ainda mais precária com o desmonte, nos últimos anos, de
  197. agências técnicas federais e estaduais que lhe prestavam assistência. Na política neoliberal, a
  198. descentralização é, principalmente, a transferência da responsabilidade da execução e custeio de políticas para a família e a sociedade. Em paralelo, mantém-se a transferência de subvenções sociais para
  199. entidades indicadas, com critérios político-eleitorais, por parlamentares ou outras instâncias do poder,
  200. pulverizando recursos sem priorizar as necessidades da população.
  201. Assim, propor, formular e participar da gestão de alternativas de políticas públicas é enorme
  202. desafio para a sociedade civil. E só é possível tratando da distribuição e alocação dos recursos públicos
  203. e da composição do poder público.
  204. 6.3 – A prática da descentralização em algumas áreas: avanços e desafios
  205. 6.3.1 – Saúde
  206. Na área da saúde, ocorreu maior a descentralização, em uma política deliberada, resultado de
  207. um processo social dinâmico, partindo de experiências concretas, que propiciaram as diretrizes básicas
  208. para o modelo implantado em todo o país – o SUS.
  209. Apesar de todo o processo de participação, permanecem alguns elementos centralizadores: a
  210. aprovação e análise técnica de programas e projetos para repasse de recursos; fixação e centralização
  211. de fiscalização de tarifas no Ministério. A  burocracia central mantém grande parcela de poder, permanecendo a influência clientelista no repasse de recursos.
  212. O SUS vive hoje sérios impasses. Não tem uma coordenação que garanta equidade  no
  213. atendimento a municípios tão heterogêneos. Na prática, prevalece a lógica privada: os setores privados
  214. recebem recursos para atender setores sociais não carentes e, além disso, o sistema de remuneração dos
  215. serviços à base de fatura permite a corrupção e o descaso com custo e qualidade de serviços. A política
  216. de redução dos gastos leva à deterioração cada vez maior do atendimento à população carente.
  217. Apesar de sua fragilidade, a existência de mais de 3 mil Conselhos Municipais de Saúde indica
  218. a possibilidade de uma ação mais ofensiva e conseqüente diante da situação.
  219. 6.3.2 – Educação
  220. Quanto à Educação, a descentralização não andou muito. Houve algum avanço, a exemplo da
  221. gestão da merenda escolar, mesmo que sem repasse automático de recursos, transferência da rede de
  222. escolas técnicas e algumas experiências de descentralização em municípios. Mas permanece a
  223. centralização institucional, os recursos centralizados no Fundo Nacional de Educação (FNDE) e na
  224. Fundação de Apoio ao Estudante (livro didático e transporte escolar) e utilizados ao sabor das
  225. conveniências político-eleitorais e da resistência dos burocratas.
  226. A indefinição de competências entre os poderes tem levado os municípios a atuar nos vários
  227. níveis, embora a permanência da centralização de recursos contribua para a oferta de ensino inadequado
  228. ou de baixa qualidade.
  229. Os movimentos sociais precisam retomar a mobilização no setor, devido à importância estratégica
  230. que tem a educação, inclusive para a concretização de outros direitos e para atingir um mínimo de
  231. equidade social. É preciso garantir e efetivar as conquistas da Constituinte, sobretudo a gratuidade do
  232. ensino, a valorização do profissional do ensino, a garantia do padrão de qualidade, gestão democrática
  233. e vinculação de recursos. A LDB (Lei de Diretrizes e Bases) garante a instalação de Conselhos, além de
  234. assegurar ao cidadão e entidades representativas o direito de acionar, por negligência, a autoridade que
  235. não garantir o ensino obrigatório.
  236. Além do aspecto propriamente educacional, merecem atenção:
  237. a) efetivo cumprimento da vinculação constitucional de verbas;
  238. b) redistribuição de recursos do salário-educação;
  239. c) fixação de critérios para alocação de recursos para material escolar, alimentação e transporte;
  240. d) maior participação dos Conselhos na gestão e formulação de políticas;Políticas ,
  241. e) efetiva implementação do Plano de Valorização do Magistério, cujos recursos devem ser controlados
  242. por um Conselho específico.
  243. 6.3.3- Habitação e desenvolvimento urbano
  244. A esfera federal permanece alheia à habitação e questão urbana. Há algumas iniciativas localizadas.
  245. A Constituição Federal cria alguns instrumentos para viabilizar a definição explícita da competência
  246. municipal:
  247. a) obrigatoriedade do Plano Diretor para cidades com população superior a 20 mil habitantes;
  248. b) exigência de adequada utilização e aproveitamento do solo urbano;
  249. c) concessão do uso de terrenos;
  250. d) usocapião urbano
  251. A maioria desses direitos não foi ainda regulamentada. Os municípios não podem investir em
  252. programas de maior alcance, por falta de recursos e de apoio técnico.
  253. Nos últimos anos, os movimentos em torno da questão urbana têm se fortalecido.
  254. 6.3 4- Assistência Social
  255. A Constituição reconhece como direito a Seguridade Social, que inclui a Assistência Social, a
  256. Saúde e a Previdência Social, com iguais diretrizes de universalidade, equidade e gestão democrática.
  257. A formulação de Assistência Social conseguiu superar a tradição de benemerência e caridade,
  258. suportes do fisiologismo e de clientelismo, embora estas práticas ainda dominem. O grande salto foi
  259. conceber a Assistência como direito de cidadania,  política pública, prevendo ações de combate à
  260. pobreza e promoção do bem estar social, articulada às outras políticas, inclusive a econômica. Na
  261. prática, este compromisso entre o Estado e a sociedade para a criação de condições dignas de vida não
  262. vem se efetivando e a cultura da elite que tutela o carente ainda se mantém.
  263. O entendimento constitucional é definido na LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social,
  264. envolvendo ações destinadas à família, maternidade, infância, adolescência, velhice, portadores de
  265. deficiências, inserção no mercado de trabalho. Seus princípios são da universalização, respeito à cidadania,
  266. igualdade de acesso aos serviços, transparência, descentralização, participação de organizações da
  267. sociedade civil na formulação das políticas e no controle das ações e a primazia da responsabilidade do
  268. Estado na condução das políticas.
  269. Tudo isso esbarra na precariedade e indefinição de recursos. Os municípios recebem a
  270. responsabilidade pelas ações, mas dependem de negociações para liberação de recursos, apesar da
  271. previsão de Fundos especiais. Os recursos previstos são do orçamento da seguridade social, já muito
  272. comprometido com saúde e previdência, ambas deficitárias.
  273. 6.3.5 - Previdência Social
  274. A Previdência é uma política universal: estende-se a todos, indistintamente, desde que seus
  275. Contribuintes sejam legalizados.
  276. O governo tenta resolver a questão do déficit da Previdência, resultado de sonegação e fraudes,
  277. com o aumento do tempo de contribuição e revisão de aposentadorias. Na área rural, há dois problemas fundamentais:
  278. a) inexistência de uma regulamentação da forma de contribuição;
  279. b) crescente burocratização do processo de comprovação de atividade rural para fins de aposentadoria.
  280. O trabalhador excluído do seu direito de aposentadoria, amplia a necessidade da assistência social,
  281. já caótica.
  282. 6.6.6  Política Agrícola
  283. A lei de política agrícola (8.171 de 17.01.91), do ponto de vista formal, define  os princípios
  284. fundamentais, objetivos e competências institucionais, prevê recursos, estabelece ações e instrumentos.
  285. A lei enfatiza a questão econômica (produtividade, incremento à produção, regularidade de
  286. abastecimento), enquanto a Constituição tem por referência a função social da propriedade. Equiparar
  287. estas duas dimensões, em nossa estrutura agrária, significa uma opção pelo produtivismo e pela
  288. tecnificação, independente de seus impactos sociais e ambientais.
  289. A lei descentraliza a execução dos serviços de apoio ao setor rural, mas centraliza a elaboração
  290. da política de desenvolvimento rural, prevendo ações de abrangência ampla, como planejamento, crédito,
  291. mecanização ou infra-estrutura. Apesar da existência de um Conselho Nacional, as ações são da
  292. responsabilidade do Ministério, com diminuta interferência do Conselho. Quanto aos recursos, prevê-
  293. se um Fundo Nacional de Desenvolvimento Rural, sem nenhuma determinação de repasse a municípios
  294. ou controle do Conselho.
  295. A agenda da questão agrícola e agrária, impõe, alem da reivindicação pela posse da terra, as questões
  296. de habitação, transporte e alimentação. Torna-se urgente, então, diante das especificidades locais e
  297. regionais, uma política agrícola de base municipal, que se desenharia a partir de alguns eixos:
  298. a) apoio à reforma agrária – dotar os assentamentos de infra-estrutura social e produtiva, mediar o
  299. escoamento da produção;
  300. b) desenvolvimento da agricultura familiar;
  301. c) alimentação e abastecimento;
  302. d) meio ambiente;
  303. e) condições de melhoria de condições de vida da população rural;
  304. f) adequação do currículo escolar.
  305. Uma importante conquista foi o PRONAF ( Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
  306. Familiar), que possibilita:
  307. · maior democratização do crédito rural para parte dos agricultores familiares;
  308. · recursos para infra-estrutura no município;
  309. · capacitação de técnicos e agricultores familiares;
  310. · recursos para assistência técnica e extensão rural de infra-estrutura.
  311. 6.3.4 Reforma Agrária
  312. Apesar dos avanços, fruto da luta do trabalhador rural, persistem obstáculos burocráticos,
  313. jurídicos, econômicos e políticos, inclusive constitucionais, à efetivação da reforma agrária.
  314. A Lei Agrária regulamentou dispositivos constitucionais. As pequenas e médias propriedades
  315. estão excluídas  de desapropriação para esse fim, mas o trabalho escravo, ainda um realidade, não éPolíticas Públicas ,
  316. punido com confisco de terra. A função social da propriedade é definida muito mais em termos
  317. econômicos - produtividade e eficiência, do que em termos sociais e ambientais, tratados de maneira
  318. genérica.
  319. A questão do crédito fundiário para a agricultura familiar levou o Governo a lançar o BANCO DA
  320. TERRA, que apresenta sérios problemas, como:
  321. · A proposta de substituir as desapropriações para reforma agrária pela compra;
  322. · O alto custo do financiamento;
  323. · A ausência da participação da sociedade na elaboração e gestão.
  324. 6.4. Desafio: uma política de geração de emprego e ocupações produtivas
  325. Na construção de um projeto de desenvolvimento local integrado, merecem atenção especial:
  326. · Formação profissional;
  327. · Existência de trabalho escravo;
  328. · Existência do trabalho infantil;
  329. · Informalidade das relações trabalhistas ( direitos trabalhistas assegurados);
  330. · O analfabetismo;
  331. · Discriminação da mulher no mercado de trabalho;
  332. · Ausência de novas oportunidade de trabalho.



Postar um comentário

emo-but-icon

Follow Us

Hot in week

Recent

Comments

Side Ads

Text Widget

Connect Us

item