
http://barrasdecaranova.blogspot.com/2013/01/barras-um-pedacinho-do-mundo-que-ainda.html
Barras um pedacinho do mundo que ainda existe
PELOS OLHOS DA MINHA RUA, AS BRUMAS PLÁCIDAS
A bela cidade de Barras despedia-se assustada e majestosa do verão ao
sentir que cairia os primeiros pingos da água da chuva no entardecer. A
cidade dos poetas e intelectuais recolhia-se bem inclinada, rente e
vagarosa, feito as ondas do rio Marataoan que corria numa correnteza
muito tímida e macilenta.

A correnteza do rio lançava uma onda mais forte num generoso suicídio
contra as pedras das lavadoras de roupas e, as gotas espalhavam-se,
depois do poético e rimado sacrifício, elas lambiam a areia da ilha do
amor que sentia a sensação de estar viva. O Marataoan com ondas
encrespadas balançava e roncava ondulante batendo contra as pedras das
lavadoras de roupas no ritmo intermitente das águas. Os pescadores e
mulheres que lavavam roupas na beira rio pareciam serem acelerados pelos
ventos alísios do início do inverno.
Apressavam-se para guardar e apanhar as roupas estendidas e
protegerem-se da chuva. O vento enfunava a canoa do pescador que
sangrava o Marataoan rumo a Porto do fio no fim de tarde já com o céu
nublado. O pobre pescador fingia resistir às irresistíveis correntezas
das ondas do rio. Ele fazia um sacrifício tremendo que exalava cada vez
mais um suor nas mangas das camisas, o que parecia um esforço solene
para não parar de remar.
O pescador preocupado com o vento e o volume das águas se enchia com
determinação e leveza sobre a superfície espelhada das águas
translúcidas do Marataoan. Barras sob o invólucro do fim do espetáculo
do crepúsculo exaltavam-se da glória episcopal da linda imagem produzida
pelas águas plácidas do rio.
A terra dos governadores enchia-se de orgulho e dava alegria a seus
moradores que ficavam inertes na beira do rio para assistir a transição
do verão para o inverno. Atrás das lavadoras de roupas agigantava-se a
imensa sombra cinzenta e o vento entrecortado varria as folhas secas e
desfolhava os pés de carnaúba e de vez enquanto levantava sacolas
plásticas e papéis pela rua da tripa no redemoinho dos ventos.
O céu nublado no nascente antecedia a despedida das últimas réstias de
luz do sol que atravessavam as nuvens carregadas no céu do lado da Boa
Vista para as Pedrinhas. Nuvens tão lentas e pesadas conduzindo para o
fim do verão e mergulhava Barras nas brumas do inverno. As narinas dos
moradores que passavam pelo balão da Zuleide absorviam com prazer o odor
da umidade dos primeiros pingos da chuva caindo no asfalto da avenida
São José e exalado na poeira da ruas de paralelepípedos, a Valter
Miranda.
Com o firmamento sendo dilacerada pelos relâmpagos, Barras contorcia-se
toda, ora vasta sob a luz forte e irradiante do sol com seus trinta e
nove graus, ora se contraía, quando mergulhada no escurecido nascente e
apavorava-se sobre o manto cinzento das nuvens que pairavam carregadas
no céu.
As luzes convidativas das lâmpadas na noite apareciam timidamente atrás
de uma massa compacta da chuva inclemente que apagava todas as
distâncias desfalecidas de pavor, de frio e de uma imprecisa sensação de
medo para os moradores ribeirinhos do bairro Prainha ou um fio de
esperança para os agricultores da zona rural do município com suas
plantações. O nascente azulado combinava com a impressionante capacidade
de ouvir os trovões e um sussurro delicado noutros momentos com apenas
um reboar timidamente imperativo bracejando do lado do Curujal.
Quase sempre o silêncio da tarde era enfurecido com os estrondos que se
mostrava encapelado, lançando sons furibundos e fuzil ante no nascente
azulado. Quem saia do balão da Zuleide rumo ao Mercado Velho podia-se
ver os camelôs correndo quase sem fôlego rente a outras pessoas, sempre
olhando pela imensidão azulada da rua Valter Miranda para a enorme massa
cinzenta suspensa nos céus para o lado do Curujal.
Com
a noite chuvosa, a ventania sacudia os cabelos esvoaçantes e
arremessava os fios sob a testa dos homens e mulheres que trabalhavam na
pedra do Mercado Velho. Com medo do vento uivando sob seus ouvidos,
eles colocavam as mãos no rosto para não ser arremessado grãos de areia
dentro dos olhos.[barrasliteraria/MarathaoaNews.com].