JUVENTÙDE E CIDADANIA



Eles nasceram há vinte ou dezesseis anos atrás. Enfrentam, como jovens, maiores problemas do que seus pais que hoje passam dos quarenta; sofrem maiores tentações e desafios do que seus pais sofreram; parecem mais livres e senhores de si; têm menos tabus e bandeiras; engajam-se menos; sabem alguma coisa vaga sobre o Brasil e o mundo; não despertaram ainda para a política, mas estão convidados a opinar e jogar seu peso na eleição que se aproxima. A Constituição lhes dá esse direito. Direito que no Brasil é dever, porque, em podendo e não votando, o cidadão sofre sanções.

Os adolescentes e jovens abaixo de vinte anos, como os pobres e marginalizados, nunca tiveram voz neste país. Os meios de comunicação falam muito deles, mas eles mesmos não falam muito nesses meios que falam muito deles e à eles. Ajudam a comprar e a vender mais que seus pais, são um excelente mercado de roupas, música, alimento, sapatos, livros, brinquedos, veículos leves e novidades eletrônicas. Os senhores da propaganda e do marketing sabem que eles são uma força, embora eles mesmos não tenham consciência dessa força. As religiões assustam-se com a idéia de perdê-los, porque significaria uma baixa considerável em qualquer igreja que se preze. Além do mais, são lindos, teimosos, adoráveis, agressivos, amorosos, simpáticos, exigentes, opiniosos, e... filhos, sobrinhos, amigos, netos e ... jovens! Quantos são? No Brasil quase toda estatística é imprecisa. Fala-se em 10 a 12 milhões de adolescentes na faixa dos 16 anos. Aventa-se em 25 milhões o número de jovens entre os 16 e 18 anos. Seria de cerca de 32 milhões o número de jovens entre os 18 e 20 anos. Não é fácil concordar com os números. Mas formariam um enorme país. E formam, de direito e fato, um enorme país adolescente, jovem e buliçoso, que está longe de ser despreocupado. Com droga, AIDS, desemprego dos pais, economia errática, violência crescente nas ruas, insegurança e raiva incontida de adultos ao seu redor, família em conflito, aborto, divórcio e quebra de valores a rondá-los todos os dias, como podem fingir que nada os atinge? São os filhos de um país sem rumo certo que nasceram num navio de refugiados econômicos, fugindo de algum problema e sem porto seguro à vista. Tudo o que escutam é que o país é maior do que o abismo e que o Brasil é viável. Não estão convencidos.

O resultado é palpável. Não acreditam em políticos, não mostram paixão pela política, não se orgulham de seu país. A religião, em geral, os incomoda. Poucos aderem a grupos religiosos de adolescentes por escolha própria. Aceitam facilmente modismos estrangeiros e cantam com enorme facilidade canções que ouviram no rádio, até mesmo em inglês, que não falam, mas que conhecem de som. Os mais pobres têm seus desafogos e alienações dentro dos limites de sua enorme carência. E há os que caem vítimas da mesma violência que sofreram. Seu recurso à gangues, violência, drogas e atos anti-sociais são seu jeito agressivo de votar contra a sua cidade e seu país.

São bons e ainda acreditam no amanhã. Precisam acreditar, se desejam ver alguma coisa de melhor neste país. Mas receberam uma cidadania precoce, isto é, sobre suas cabeças jovens e bonitas, seus ombros juvenis e ainda despreparados, o país joga uma responsabilidade muito grande. A nação quer a opinião deles sobre negócios de Estado, mas não tem pensado muito neles. Vejam nossas grandes cidades da periferia. Onde estão as praças de esporte, o verde e o lugar onde possam expandir sua alegria e energia? Aonde pode um adolescente ir despreocupado com seus companheiros? O Brasil de 8.500 km2 constrói cidades sem espaço para crianças e adolescentes. Talvez o voto deles mude ao menos isso...
CIDADANIA E JUVENTUDE [barrasdecaranova.com]


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